Concepções Filosóficas dos Direitos Fundamentais: Jusnaturalismo, Realismo, Idealismo e Positivismo

Por Josélia Martins - 27/04/2024 as 16:36

Os direitos fundamentais são pedras angulares da democracia e dos sistemas jurídicos em todo o mundo. Eles estabelecem os limites do poder estatal e garantem proteção aos indivíduos. No entanto, a base filosófica que justifica a existência e a aplicação desses direitos é um tópico de debate intenso na teoria do direito. Este artigo explora quatro concepções filosóficas justificadoras dos direitos fundamentais: Jusnaturalismo, Realismo, Idealismo e Positivismo, com insights de pensadores como Jorge Miranda e Norberto Bobbio, e seu impacto na Constituição Brasileira de 1988.

 

Jusnaturalismo: Direitos como inerentes à Natureza Humana

A concepção jusnaturalista sustenta que os direitos fundamentais são inerentes à natureza humana e não dependem de nenhuma autoridade ou legislação estatal para sua existência. Os defensores do jusnaturalismo argumentam que os direitos humanos são universais e imutáveis. O jusnaturalismo tem influenciado o desenvolvimento dos direitos fundamentais, pois enfatiza a proteção da dignidade humana.

 

Realismo: Direitos como uma Consequência das Relações de Poder

Os realistas veem os direitos fundamentais como produtos das relações de poder na sociedade. Eles argumentam que esses direitos são, em última análise, moldados pelas elites dominantes para manter o controle e estabilidade social. O realismo destaca a necessidade de compreender as implicações políticas e sociais dos direitos fundamentais.

 

Idealismo: Direitos como Expressão de Ideais Morais e Éticos

A abordagem idealista defende que os direitos fundamentais são uma expressão de ideais morais e éticos compartilhados pela sociedade. Os idealistas argumentam que esses direitos são uma manifestação do que a sociedade considera ser justo e correto. Eles enfatizam a importância dos princípios éticos na construção dos direitos fundamentais.

 

Positivismo: Direitos como Produto da Legislação Estatal

O positivismo considera os direitos fundamentais como produtos da legislação estatal. Nessa perspectiva, os direitos existem apenas na medida em que são reconhecidos por uma autoridade jurídica. O pensador Norberto Bobbio, por exemplo, contribuiu para essa concepção ao destacar a importância do reconhecimento estatal dos direitos fundamentais. A Constituição é a principal fonte de direitos nessa visão.

 

A Constituição Brasileira de 1988: Um Compromisso entre Diferentes Concepções

A Constituição de 1988 do Brasil é um exemplo notável de um documento que incorpora diversas concepções filosóficas dos direitos fundamentais. Ela consagra tanto princípios jusnaturalistas, ao afirmar a dignidade da pessoa humana como um valor supremo da República, quanto princípios positivistas, ao reconhecer direitos específicos e atribuir à Constituição a máxima autoridade no ordenamento jurídico brasileiro.
 
Além disso, a Constituição de 1988 também reflete princípios idealistas ao estabelecer uma série de garantias fundamentais, como o direito à igualdade e o direito à liberdade de expressão, que refletem valores morais e éticos da sociedade brasileira.
 
No entanto, a Constituição também reflete a influência do realismo, já que os conflitos sociais e políticos da época de sua elaboração desempenharam um papel importante na definição de seus conteúdos. A busca por equilíbrio e estabilidade, em meio a um contexto de transição democrática, foi crucial na formulação da Carta de 1988.

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Desafios e Controvérsias

Apesar de incorporar diversas concepções filosóficas, a Constituição de 1988 também enfrenta desafios e controvérsias. A interpretação dos direitos fundamentais pode variar consideravelmente, e os tribunais brasileiros muitas vezes precisam decidir como aplicar esses direitos em casos concretos.
 
Além disso, a tensão entre a visão jusnaturalista, que defende a universalidade dos direitos, e a visão positivista, que enfatiza a autoridade do Estado, pode criar dilemas na aplicação da Constituição. É um desafio equilibrar a necessidade de proteger os direitos humanos com a realidade política e social do Brasil.

 

Conclusão

As concepções filosóficas justificadoras dos direitos fundamentais desempenham um papel crucial na teoria do direito e na prática jurídica. A Constituição Brasileira de 1988 é um exemplo claro de como essas diferentes concepções podem coexistir e se harmonizar em um sistema jurídico.
 
À medida que o Brasil e o mundo enfrentam desafios em constante evolução, é importante continuar debatendo e refinando as concepções filosóficas dos direitos fundamentais. A busca por um equilíbrio entre essas diferentes perspectivas é essencial para garantir a proteção dos direitos humanos e a manutenção do Estado de Direito em uma sociedade democrática e pluralista.